Família Hunglauber faz mutirão para recuperar a mais antiga santacruzinha de Pirassununga
Com 132 anos, a “Cruz de Ferro” é a mais antiga “santacruzinha” de Pirassununga. Situada entre os bairros “Cantareira” e “Monte de Sião”, a pequena ermida vinha resistindo, aos trancos e barrancos, ao impacto dos treminhões e das colheitadeiras que por ali transitam durante a colheita da cana-de-açúcar.
A “Cruz de Ferro” traz inscritas as siglas, “B.M.N.F.” e “F.N.D”, e uma data – “10 de agosto de 1887”-, provavelmente o registro de sua construção.
Enquanto as pequenas oradas de beira de estrada possuem em seu interior uma cruz de madeira enfincada na terra, esta capelinha, diferente de todas, abriga uma cruz de ferro. Ninguém sabe o que teria inspirado aqueles que a ergueram a trocarem a madeira pelo metal.
Os antigos moradores contam que a “Cruz de Ferro” fora erguida no mesmo local onde um carreiro de boi teria perdido a vida num acidente.
AÇÃO PRESERVA E PROTEGE A CRUZ DE FERRO
Com o passar dos anos, a velha santacruzinha de tantas histórias, estava prestes a ruir e a desaparecer definitivamente do mapa.
Sensibilizados por tudo que aquele marco representou às gerações dos Unglauber, a família uniu esforços e, em sistema de mutirão, decidiu reformar, pintar e melhor proteger aquele expressivo patrimônio.
A “Cruz de Ferro” é a história viva – oral e testemunhal – das gerações dos Unglauber que ali nasceram, cresceram e aprenderam a cultivar o legado de fé, devoção e o culto às tradições transmitidos por seus antepassados ao longo desses anos.
FAMÍLIA PROMOVE MUTIRÃO DE FÉ
Diante da precária situação em que se encontrava a capelinha, os Hunglauber não mediram esforços. Botaram a “mão na massa” e, com muito empenho, amor e carinho tomaram as providencias no sentido de recuperar, enfim, a antiga “Cruz de Ferro” .
Participaram da ação José Edson da Costa, Dirceu Valentim Ungloub, Divanildo Aparecido Ungloub, Marcus Vinícius Hunglauber, Bruno Henrique Ungloub, Gerson Cellin, Antônio Marcos de Araújo, Augusto José Sengling Ungloub, Marcelo Henrique Ungloub, Alfredo Luiz Hunglauber, Herson Lissone, Sebastião Benedito Ungloub, Desmaiel Batistela, Amélia Valter Ungloub, Osvair Ungloub, Valdeci Ungloub, Lauro, Nei Botigeli, Santo Hunglauber (in memorian), Francisco Domingos Filho e José Vanderlei Freitas.
“REZAMOS, MOLHAMOS A CRUZ E A CHUVA LOGO VEIO PARA LAVAR NOSSAS ALMAS E FAZER A LAVOURA RENASCER”
O agricultor Alfredo Luis Hunglauber, que nasceu e cresceu naquela região, conta que quando criança, durante as castigadas estiagens, acompanhava os pais, avós e familiares das procissões, nas quais os moradores iam até a santacruzinha para implorar chuva aos céus.
“Durante nove dias seguidos (novena), a gente peregrinava descalço pela areia quente, rezando e carregando vasilhas cheias d’água para molhar a cruz.
“Certa vez, saímos em procissão. O céu estava limpinho, não havia uma nuvem sequer. Ao chegarmos à “Cruz de Ferro”, rezamos o Terço com todo fervor, pedimos vinda das chuvas e derramamos a água por sobre a Cruz”, afirma Hunglauber.
“Ao regressarmos, acreditem, não houve tempo nem de entrar em nossas casas: uma chuva torrencial se abateu no local banhando a terra e salvando a lavoura que estava morrendo diante daquela seca avassaladora. Jamais me esquecerei aquele dia”, conta Alfredo.
MAQUINÁRIOS PESADOS USADOS NA COLHEITA DA CANA ESTÃO VARRENDO AS ORADAS EXISTENTES
Esses patrimônios situados nas propriedades particulares, guardam emocionadas histórias de fé e superação vividas por aqueles que nasceram e enfrentaram, às duras penas, as intempéries do tempo e os dias difíceis na lida.
Miras constantes da ação dos depredadores, as poucas santacruzinhas existentes recebem o carinho e a atenção dos agricultores, seus familiares e moradores abnegados do entorno, que não medem esforços para manter viva essa memória. Parabéns à Família Hunlauber por tão nobre gesto!
Que este exemplo de devoção, respeito e preservação da cultura popular possa incentivar outras famílias a preservar tão preciosa tradição protegendo esses marcos de fé, que no passado existiram às dezenas em Pirassununga.
ALTAR DOS SANTOS QUEBRADOS E ABRIGO DOS ANDARILHOS
Manda a tradição que os santos e objetos sacros quebrados, por estarem bentos, não devem ser atirados ao lixo ou abandonados em qualquer outro lugar.
Para evitar maus presságios, as esculturas (imagens) avariadas são deixadas no interior das santacruzinhas. Essa prática, transmitida de pai para filho, se mantem viva até os dias atuais.
Os passantes e andarilhos também faziam uso das “igrejinhas” para pernoitar, descansar e se proteger das intempéries do tempo.
Por Roberto Bragagnollo
Minha falecida mae nasceu em Pirassununga em 1923 Fazenda Laranja Azeda familia Beozzo meus avos Cezario Beozzo e Amelia Rubim , casou-se em Campinas onde nasci . Passei muitas ferias em Pirassununga isso nos anos 60 e comeco dos anos 70 , onde meus primos e primas ainda moram , sempre saiamos com o avo ou o tio para passear acompanhando a linha do trem indo em direcao a Estacao Laranja Azeda , quanta saudades desse tempo…